Luiz Gustavo além de protagonista é a alma do filme |
Se você é o tipo de pessoa que espera um besteirol brasileiro à lá "Zorra Total" toda vez que uma comédia nacional entra em cartaz, pode ir tirando seu cavalinho da chuva. "Minha Mãe é uma Peça" pode não ser nenhum "Monty Python", é verdade; mas o roteiro de Paulo Gustavo chega às telonas com um filme icônica do novo humor carioca. É engraçado sem ser preconceituoso, mas ainda assim força a barra com piadas que são grandes variações sobre o mesmo tema.
A película te faz mergulhar dentro do monólogo de Dona Hermínia, uma mãe e dona de casa quarentona que reclama dos filhos, vizinhos e de quem mais aparecer pela sua frente. O formato dá à personagem sucesso nos teatros cariocas há seis anos, e a aparição dos personagens que o povo já conhecia pelas histórias dela causou muita expectativa.
Uma senhora desbocada de bobs, Hermínia não mede suas palavras, e fala na cara se acha que alguém está acima do peso ou fumando muita maconha. Exagero? Um pouco, mas é também verdade que é só dar uma caminhada pelas ruas do Rio de Janeiro (ou de Niterói) para encontrar donas e dons Hermínias aos montes, começando suas frases com a expressão "ih, olha aí, ó!".
Interpretada pelo próprio Paulo Gustavo, a senhora entra em surto ao ouvir pelo telefone que o filho gay, Juliano (Rodrigo Pandolfo), e a filha gordinha, Marcelina (Mariana Xavier), preferiam morar com o pai (Herson Capri); e pior: que sua filhinha preferia ser como a madrasta, a "vaca" gostosona cabeça de vento Soraia (Ingrid Guimarães) do que à semelhança da própria mãe.
Personagem de Herson Capri largou a mulher para pegar uma novinha |
E é ao deixar a própria casa para passar uns dias em sua tia que ela começa a divagar sobre o passado. A história se alterna entre as peripécias da família ao longo dos anos contadas pela matriarca à tia, o sofrimento da mãe traída e o dos filhos, que sozinhos em casa aos poucos percebem a falta que o cuidado material faz.
Gustavo é a alma do filme. A personagem principal é feita à imagem e semelhança de sua própria mãe, Juliano tem muito de suas próprias experiências e Marcelina as de sua irmã na vida real.
Mas colocar um homem para interpretar uma mulher traz lá suas desvantagens, a principal delas sendo a pitada de machismo de não escalar uma atriz para um papel de destaque mesmo quando este é do gênero feminino. Além disso, o cinema cobra um realismo exacerbado em relação ao teatro. Há todo um esforço para que ninguém confunda a dona de casa com um homem vestido de mulher (esforço louvável da equipe de maquiagem, aliás), e até funciona, mas às custas de P.G. manter o mesmo tom de voz gritalhão do início ao fim da história, o que lá pelos 30 do segundo tempo começa a irritar.
"Minha Mãe é uma Peça" tem um grande mérito de adaptar um texto do teatro sem ser uma versão filmada do espetáculo. A produção conseguiu encontrar uma linguagem de cinema para a história. Paulo Gustavo, por sua vez, mostra que há esperança para humor inteligente (inclusive no formato stand up) como o que tem praticado em "220 Volts", seu programa na GNT. Há esperança na comédia brasileira; talvez tenha chegado a hora de se soltar dos grilhões das piadas preconceituosas.
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